terça-feira, 10 de agosto de 2010

Capítulo 4 – “Escola”

Aquela musica irritante me acordou mais uma vez no melhor do meu sono. Eu levantei da minha cama meio tonta de sono e comecei a procurar pelo meu celular. Quando o achei desliguei o alarme e joguei-lo na minha mochila. Não posso esperar para acabar essa merda de prisão que eles chamam de escola e ir para a faculdade. “Só dois anos agora”, eu repetia na minha cabeça tentando acreditar que aquilo era confortante de alguma forma, mas dois anos me parecia tempo demais. Na minha cabeça não passava ainda como esses dois anos voariam.
Era o primeiro dia da escola depois das férias de verão. O dia estava quente, por isso eu deixei de lado a meia-calça que fazia parte do uniforme. Coloquei a saia pregada que parecia ter saído de um filme de high school britânico. A camisa de manga curta estava amassada por ter ficado quase três meses jogadas num armário completamente desorganizado, o colete estava no armário, mas eu não conseguia achar a gravata que completava o uniforme.
“Mãe!”, gritei enquanto jogava tudo para fora da gaveta de meias. Quando ela abriu a porta eu continuei, “Você viu a gravata da escola por ai?”.
“Não vi não, Isa. Pegue uma do seu irmão”, ela sugeriu como se isso fizesse o maior sentido do mundo.
“Mãe você sabe que a feminina e a masculina são diferentes não sabe? A minha é bem mais fina e feminina”, o mais feminina que uma gravata podia ser, eu completei mentalmente.
“Filha, o que você quer que eu faça? Costure uma agora? Vá sem hoje, eu escrevo um bilhete pra você mostrar quando os inspetores vierem te encher o saco, ta bom assim?”.
Eu apenas concordei com a cabeça e fui para o banheiro arrumar o meu rosto.
Na escola eu tinha duas amigas: a Ana e a Julia. Era um grupo de nerds, nenhuma de nós se destacava de nenhuma forma, a não ser pelas notas. Andávamos juntas na escola, mas não muito mais do que isso, uma vez ou outra dormíamos na casa de uma, falávamos sobre os meninos da escola pelos quais estávamos apaixonadas mais com os quais nunca havíamos sequer conversado. Quando eu as encontrei naquela manha não nos víamos desde o ultimo dia de aula porque eu viajara com a minha família. Nos abraçamos, contamos novidades (como se tivéssemos muitas novidades) e sentamos nas nossas carteiras. Minha vida social era basicamente isso.
Imaginem vocês minha surpresa quando a Caroline entrou pela porta e sentou no fundo da sala, com sua saia curta de mais que não podia ser mais do que um P infantil e sua camisa aberta de tal forma que o sutiã quase aparecia. A essa altura vocês já sabem que ela é um ano mais velho e estudava na sala do meu irmão, não sabem? Se não ficaram sabendo agora. Eu corri para a mesa da Ana (ela era a que tentava ficar mais por dentro do que acontecia na escola, acho que não se conformava muito com sua situação social e queria ser como as outras) e perguntei:
“O que a Caroline ta fazendo na nossa sala?”.
“Ah, você não ficou sabendo? Ela reprovou”, a Ana contou, revirando os olhos como se fosse noticia antiga, mas mesmo assim continuou “Tava na cara não é? A menina não faz outra coisa da vida se não dar, o que mais ia acontecer com ela?”.
“Eu não fiquei sabendo, mas acho que faz sentido mesmo” levantei pensativa e fui ate minha carteira de novo, mas não sentei. Fiquei lá, em pé, pensando. A menina cuja vida era a mais divertida do mundo estava na minha sala, mas eu tinha certeza que nunca ia falar com ela. Eu era covarde de mais para isso. Mas eu não ia continuar a ser covarde.
Eu fui até o final da sala com os olhos no chão. Quando cheguei lá a menina me olhou de cima a baixo e deu uma risadinha. Meu rosto fiou vermelho e era obvio que meu mundo tinha acabado. Então eu sorri e fiz a única coisa que podia.
“Alguém aqui tem uma caneta pra me emprestar?”, perguntei com a voz o mais alta e confiante possível, o que não era muita coisa.
“Claro”, a Carol respondeu e me estendeu uma caneta amarela com um animal não identificado na ponta, mas não sem dar mais uma risadinha para os amigos que me olhavam como se eu fosse um rinoceronte no zoológico. Eu abaixei a cabeça e voltei para o meu lugar e esse foi o meu primeiro dia de aula.

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